Cinquenta Tons de Cinza: Lacrar ou não lacrar?




No dia 17 desse mês, foi publicada uma notícia sobre um juiz de Macaé, no Rio de Janeiro, que chegou em uma livraria com um mandato para recolher a trilogia da autora E. L. James, que segundo o membro da justiça, não estavam devidamente lacrados. O polêmica toda gira em torno do livro ser uma fanfic de Crepúsculo (literatura para adolescentes) e conter um conteúdo erótico proibido para menores de 18 anos. A questão controvérsia é a seguinte: se esses livros não estivessem no auge, se fossem escritos por um autor brasileiro ou se fosse um livro lançado em 1890 causaria a mesma reação das pessoas e da justiça?

De acordo com a notícia publicada no G1, "a iniciativa foi motivada após ele (o juiz) ter verificado pessoalmente, em uma livraria da cidade, crianças perto das vitrines onde livros com conteúdo erótico estavam expostos." Tenho certeza que o juiz tem filhos ou filhas, é conservador e quer que as crianças do Brasil sejam "protegidas" desse tipo de conteúdo. Isso foi o que ele declarou em entrevista. Ok, senhor juiz, concordo que as crianças desse Brasil devem ser protegidas de muita coisa, como o conteúdo da televisão aberta, por exemplo. Mas não vejo porquê toda essa confusão por causa de um livro que contém assunto impróprio para menores de 18 anos e ainda ficam nas prateleiras mais altas (pelo menos foi o que eu verifiquei na foto da livraria).

Há muito pano pra pouca manga para discutir sobre o assunto, mas tem uma coisa que até me faz "concordar" com o juiz em alguns pontos. Ainda segundo a matéria "o artigo 78 do ECA, usado como base pelo juiz, diz que 'revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo'". Massa! O senhor juiz nada mais quer que proteger as crianças e adolescentes desse país cumprindo com a lei, assim como ela está no papel. Se todos os juizes fossem assim, estaríamos vivendo em um Brasil de primeiro mundo. É uma pena nenhum membro da justiça ainda não veio lacrar os estúdios da novela tal, que passa às seis da tarde, com conteúdo inapropriado para menores de 16 anos, né? Que tal proteger as crianças e adolescentes das cenas inapropriadas que passam na televisão aberta?

Dando uma olhada em alguns comentários, me deparei com um bem peculiar, que diz muita coisa: o livro O Cortiço, obra de Aluísio Azevedo, leitura obrigatória para os adolescentes que vão fazer vestibular contém conteúdo totalmente inadequado para os menores de 18 anos. Intrigante, não? Se calcularmos a idade média que os adolescentes começam a estudar para o vesibular, estaríamos obrigando adolescentes de 14 anos a ler um livro com sexo explicíto. Não seria mais útil proibir a composição de músicas de funk, forró ou qualquer outra coisa que pode ser ouvida ou vista publicamente? Porque, sinceramente, não acho que uma criança vá se interessar por um livro de capa preta, com algemas na frente e sem figurinha no miolo, não é mesmo? E a probabilidade dela cair exatamente em uma página que tenha alguma coisa sobre sexo também nem vale contar. 

Colocando minha opinião em poucas palavras: é muita hipocrisia para um país em que exibe uma mulher sambando pelada em rede nacional a qualquer hora do dia querer gerar polêmica com recolhimento de livros eróticos não lacrados em livrarias. Então simbora lacrar os livros de Paulo Coelho! E que tal não obrigar certos livros como O Cortiço a cairem no vestibular? Que tal juiz não querer aparecer e ser o corretíssimo fazendo coisas fora da lógica brasileira? Se é pra proteger crianças e adolescentes, que proteja corretamente e em todos os veículos. O país já tem muito analfabeto e muita criança fora da escolha para ficarmos nos preocupando com a publicação de livros. Vamos educar primeiro, depois nos importamos com as proibições. 


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