Resenha: Hell - Lolita Pille




  • Título: Hell
  • Autor(a): Lolita Pille
  • Editora: Intrínseca
  • Ano: 2003
  • Páginas: 205
  • Cortesia da Editora Intrínseca

Lolita Pille escreve sem pudor sobre o mundo ao seu redor. Retrato sincero e devastador da juventude rica e consumista de Paris, que preenche suas vidas com sexo, álcool, drogas e roupas de grife, 'Hell' poderia se passar em qualquer grande cidade do mundo, pois espelha os valores e o comportamento de uma classe para quem o mundo se divide em duas categorias - 'nós' e 'vocês'. Uma classe que, sem encontrar limites para o prazer, vive o angustiante vazio do excesso. Hell, pseudônimo da narradora, é uma garota rica, fútil e arrogante, detestável sob todos os aspectos. Assumidamente frívola e preconceituosa, ela gasta diariamente em butiques de luxo mais do que o salário mensal da maioria dos leitores do livro. Em sua narrativa nervosa quase não há trama, porque Hell e suas amigas vivem um presente perpétuo, uma sucessão de prazeres cujo sentido está nas aparências e na superfície das coisas.

Quando eu estava procurando um livro diferente, este era realmente o que eu estava esperando. Se você está querendo um livro em que possa se apaixonar pelos personagens, certamente esta não é a escolha certa. Lolita Pille, aos 19 anos, faz uma clara crítica à alta sociedade de Paris, sociedade a qual ela mesma pertence. Hell é o apelido de Elle, uma jovem parisiana da alta sociedade, que é o verdadeiro significado da futilidade e da arrogância, mas é fruto do meio onde vive. A autora se destacou em seu livro por, em momento algum, controlar suas palavras, ou sentir qualquer necessidade de puxar os freios na hora de expressar o que pensa.

“Nós representamos a comédia da vida, mas estamos mais mortos do que vivos.
Cadáveres animados.”

Lolita Pille fez de Hell um retrato de si mesma, fazendo uma viagem através de uma personalidade superficial, nos levando a um misto de emoções reprimidas dentro dela. A autora vai mostrando como o dinheiro é a alegria da sua vida, mas, ao mesmo tempo, pode tê-la destruído. Logo no primeiro parágrafo, já temos uma amostra da linguagem que se arrasta com o passar das páginas “Eu sou uma p*. Daquelas mais insuportáveis; da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista.” Hell é uma personagem certamente difícil de entender, ela tem uma realidade completamente diferente de 99%, se não 100%, das pessoas que leram esse livro. A verdade é que é difícil abraçar a causa de uma garota rica que só tem álcool, drogas e sexo na cabeça, e faz parecer que ler este livro só não é maior perda de tempo que conhecer a própria personagem, mas isso não é verdade, pois quem disse que nossas falhas são mais perdoáveis que as dela? O enredo levanta um certo preconceito que vive dentro de nós, mas não sabíamos.

“Viver de amor, Evian e Marlboro Light.”

A narrativa da autora não é nada do outro mundo, o que realmente dá destaque e merece uma estrelinha dourada é suas frases de efeito e suas analogias. Quem está na dúvida se compra ou não, sugiro que vá numa livraria (ou baixe o livro) e dê uma lida no primeiro capítulo. Ele é, de fato, a melhor parte do livro, pois ser mais rápida, e conter analogias e críticas, uma atrás da outra, sem pausa para respirar. Eu li o primeiro capítulo com os olhos vidrados, e fiquei super insatisfeita quando ele acabou. O resto do livro se dá mais lentamente, com a Hell pulando de um evento para outro, buscando drogas, soltando uma frase de efeito cá e lá.

Mas vocês devem estar se perguntando “É só isso? A gente vai ler 205 páginas sobre as reclamações de Lolita Pille?” Pois é, não vão! Hell também vive – pasmem! – um romance. Aparentemente existe outro alguém igual a ela, só que do sexo oposto! Um casal problemático, egoísta e com sérios problemas para expressarem o que sentem! Mas, ainda assim, esse romance a esperança de que talvez as coisas melhorem para os dois. Talvez ela possa ser uma pessoa diferente.

“Eu não vou transcrever para vocês as tolices adoráveis que a gente fica trocando um com o outro ao longo das noites, nem descrever a maneira dele de recolocar as minhas mechas atrás da orelha, a suavidade do rosto dele contra o meu, o seu olhar mergulhado no meu. Como estão vendo, eu caio rapidamente nos piores clichês. Rostos grudados, olhos nos olhos, mão na mão... Como a gente fica babaca quando apaixonada.”

A capa e o próprio nome pouco dizem sobre a história do livro, o que eu já acho muito bom. A verdadeira capa bonita é aquela que chama o leitor para o que está no meio das folhas. Por que uma capa tão simples para um nome tão intenso? Sinceramente, esse livro é daqueles que vocês tem que pagar para ver. Eu posso ficar horas aqui elogiando e ainda assim vocês podem ir lá, comprar e odiarem ele. Assim como vocês podem ler em (muitas) resenhas por aí que o livro é ruim e, se arriscarem, poderão amar. É uma questão de gosto e opinião. Mas eu, Juliana Neves, recomendo e muito!

“Seis meses de felicidade... Minha lenta decadência... E um dia a gente se descobre jogando sozinho. O outro tira suas bolas de gude, toma suas cartas, e você fica plantado lá, como um babaca, diante de uma partida inacabada... Esperando. Porque é só isso que você pode fazer, esperar. Parar de esperar, isso seria dizer que acabou.”

Geral: (4/5)
Narrativa: (4/5)
História: (4/5)
Facilidade de Leitura: (4/5)
Design: (5/5)
Revisão: (5/5)

Comentários via Facebook

 
Vector Credits