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- Título: Bling Ring: A Gangue de Hollywood
- Autor(a): Nancy Jo Sales
- Editora: Intrínseca
- Ano: 2013
- Páginas: 272
- Cortesia da Editora Intrínseca
Entre 2008 e 2009, as residências de Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Paris Hilton e diversas outras celebridades foram invadidas e saqueadas. Os ladrões, um grupo de jovens criados em um endinheirado subúrbio de Los Angeles, levaram o equivalente a 3 milhões de dólares em joias, dinheiro e artigos de grife, como relógios Rolex, bolsas Louis Vuitton, perfumes Chanel e jaquetas Diane von Furstenberg. As notícias surpreendentes sobre o caso chocaram Hollywood e intrigaram o mundo. Por que esses garotos, que em nada correspondiam à tradicional imagem dos bandidos, realizaram crimes tão ousados?
A jornalista Nancy Jo Sales entrevistou todos os envolvidos, incluindo os pais e os advogados dos jovens, e até mesmo as celebridades que sofreram os assaltos. Em Bling Ring: a gangue de Hollywood, ela apresenta todos os detalhes de uma das quadrilhas mais audaciosas de nossos tempos. A história real também inspirou o filme de Sofia Coppola, estrelado por Emma Watson.
“O que é o eu?’ (E, ‘se postei algo no Facebook e ninguém curtiu, eu existo?’)” pg. 29
Muito mais um estudo do que uma narrativa em si. O livro Bling Ring trás a trajetória da jornalista Nancy Jo Sales (autora) na cobertura sobre um caso que deixou Hollywood de queixo caído pois, pela primeira vez, o mundo das celebridades pareceu sair de dentro da bolha que os separava dos “meros cidadãos.” A gangue, que passou a ser chamada de Bling Ring, cometeu crimes tão audaciosos que faz todo mundo quebrar a cabeça e imaginar: por quê? Por que um grupo de jovens ricos iria roubar uma quantia que se acumulou em três milhões de dólares em roupas, sapatos, acessórios e dinheiro. Será porque eles podiam? Porque era fácil?
“Porém, era óbvio que o apelo desse caso não residia nos garotos ricos; era uma dessas histórias mais estranhas do que a ficção, que tocam fundo no espírito de uma época, e no seu ponto mais sensível, abordando temas como juventude, celebridade, internet, redes sociais (os garotos alardeavam suas façanhas no Facebook), reality show e a própria mídia [...].” pg. 28
A autora fez, em seu livro, um grande estudo sobre a atual cultura do jovem americano – que, a meu ver, não se resume aos Estados Unidos e, sim, a todo o mundo –, sobre o culto à riqueza, fama e celebridades, envolvendo até a relação que os jovens têm com as redes sociais, dando a impressão que, hoje em dia, qualquer um pode ser famoso, ou pelo menos se sentir como um, postando tudo o que faz e o que pensa na sua página do Facebook ou Twitter.
“Todo mundo pensa que é famoso. Chamo esse pessoal de FF, famosos do Facebook. É como se achassem que basta se exibir e pronto, nem precisam trabalhar por isso.” p. 41
Na sua narrativa, Nancy fez uma alternância entre o seu trabalho como jornalistas, e os estudos que fazia sobre o perfil do jovem americano. A jornalista, que colaborou com a cobertura do caso para a revista Vanity Fair, é especialista em escrever sobre os jovens, sobretudo se forem ricos. No livro, ela misturou sua experiência com o tema e as pesquisas que veio fazer como o tema – enquanto trabalhava no caso Bling Ring – para trazer um pouco para gente do porquê o jovem americano se comporta de tal modo hoje em dia? Ela abordou tudo, desde contextos históricos até os psicológicos.
“Para mim é toda a ideia em torno do narcisismo e dos reality shows da TV e da obsessão com as redes sociais, tudo pelo qual os jovens dessa geração se mostram obcecados – seguiu ela [Sofia Coppola] – e do modo como são mimados. Eles – os garotos da Bling Ring – não viam problema em entrar naquelas casas e pegar o que quisessem. [...]” pg. 11
Para quem gosta do trabalho jornalístico, Bling Ring é um belo guia de uma jornalista na construção de uma grande matéria especial (o livro). Nancy narrou tudo tão detalhadamente, desde sua busca por fontes que pudessem ajuda-la a entender as motivações dos crimes, ou fontes que pudessem fornecer informações as quais poucas pessoas têm acesso, até suas tentativas (algumas foram bem sucedidas, outras não) em contatar os réus envolvidos. Nancy mostrou total dedicação ao caso, dando importância a qualquer fonte que ela pôde encontrar na rua, mesmo que fosse apenas um adolescente que vive a mesma realidade dos “criminosos.”
“Talvez, refleti, os jovens da Bling Ring sentissem que bastava entrar na casa das estrelas porque essas estrelas não emitiam mais brilho algum. Talvez a Bling Ring, apesar de toda a frivolidade, representasse o início de uma reviravolta no relacionamento que os Estados Unidos mantinham com as celebridades” pg. 92
Se você busca um livro com uma grande narrativa baseada em fatos reais, não ache que Bling Ring vai preencher esta vontade. Fui com esta expectativa e me decepcionei um pouco. Entretanto, com o passar das páginas, me encantei com o trabalho de Nancy Jo Sales na cobertura do caso. Acho que esperava algo um pouco mais divertido, pois, como a própria autora descreveu em seu livro, um crime que envolve “adolescentes” e celebridades não pôde ser levado a sério pela sociedade, pois “que mal tem tirar de quem já tem bastante?” Bling Ring ajudou, ao menos, a humanizar nossos ídolos. Fazer a gente nos lembrar que, apesar de serem pessoas públicas, eles não deixaram de ser pessoas.
“Quero me sentir como eles parecem ser – disse Rubenstein – e, se eu tiver o que eles têm, então serei um deles. Se eu puder vestir o que eles vestem, meus problemas vão desaparecer, meu sofrimento vai sumir...” pg. 65
