Resenha: Marina - Carlos Ruiz Zafón



  • Título: Marina
  • Autor(a): Carlos Ruis Zafón
  • Editora: Suma de Letras
  • Ano: 2011
  • Páginas: 192
Neste livro, Zafón constrói um suspense envolvente em que Barcelona é a cidade-personagem, por onde o estudante de internato Óscar Drai, de 15 anos, passa todo o seu tempo livre, andando pelas ruas e se encantando com a arquitetura de seus casarões. É um desses antigos casarões aparentemente abandonados que chama a atenção de Oscar, que logo se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um relógio de bolso quebrado e muito antigo. Mas ele se assusta com uma inesperada presença na sala de estar e foge, assustado, levando o relógio. Dias depois, ao retornar à casa para devolver o objeto roubado, conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre à mesma data, à mesma hora. Os dois passam então a tentar desvendar o mistério que ronda a mulher do cemitério, passando por palacetes e estufas abandonadas, lutando contra manequins vivos e se defrontando com o mesmo símbolo - uma mariposa negra - diversas vezes, nas mais aventurosas situações por entre os cantos remotos de Barcelona. Tudo isso pelos olhos de Oscar, o menino solitário que se apaixona por Marina e tudo o que a envolve, passando a conviver dia e noite com a falta de eletricidade do casarão, o amigável e doente pai da garota, Germán, o gato Kafka, e a coleção de pinturas espectrais da sala de retratos. Em Marina, o leitor é tragado para dentro de uma investigação cheia de mistérios, conhecendo, a cada capítulo, novas pistas e personagens de uma intrincada história sobre um imigrante de Praga que fez fama e fortuna em Barcelona e teve com sua bela esposa um fim trágico. Ou pelo menos é o que todos imaginam que tenha acontecido, a não ser por Oscar e Marina, que vão correr em busca da verdade - antes de saber que é ela que vai ao encontro deles, como declara um dos complexos personagens do livro.

“O tempo faz com o corpo o que a estupidez faz com a alma: Apodrece.”

Assustador, só para começar a falar sobre. Nas resenhas que li sobre seus livros, Carlos Ruiz Zafón era só elogios, mas poucas pessoas deixavam claro como a sua literatura é obscura. Não, definitivamente, esta não é uma resenha negativa. Como eu poderia dar menos do que quatro estrelas para um autor que faz a perfeita descrição da arte de viver.

Queria já ter lido algo mais do autor para falar do livro com mais profundidade. Ouvi dizer que Marina é a menos intensa das obras que já escreveu. Marina conta a trajetória de Óscar Drai, que sai do internato onde estuda, em Barcelona, para explorar os casarões abandonados que ficam nos arredores. Uma das casas chama sua atenção, e sua curiosidade termina fazendo com que ele entre para explorá-la. O problema é que Óscar achava que a casa estava, de fato, abandonada, mas tinha alguém dentro dela. Ele não pensou, apenas correu, correu, correu até estar longe o suficiente. Só então ele percebeu que tinha trazido consigo um relógio de bolso. Por vezes tentou convencer-se de que não tinha problema, uma vez que ele estava quebrado. Mas, ainda assim, sua consciência não aliviou. Teve que voltar.

“O tempo não nos torna mais sábios, apenas mais covardes. Por anos, fugi sem saber do que fugia. Pensei que, se corresse mais do que o horizonte, as sombras do passado se afastariam do meu caminho. Pensei que, se a distância fosse suficiente, as vozes de minha memória se calariam para sempre.”

A história é contada pelo próprio Óscar. Enquanto lia, sentia como se todo capítulo fosse uma peça de um quebra-cabeça complicadíssimo. Você nunca está um passo a frente dos personagens. Pode até achar que sim, mas se engana. A narrativa é toda um grande mistério, com direito a reviravoltas angustiantes, personagens complexos que, normalmente, não são o que parecem.

A verdadeira temática do livro, para começar, é o grande mistério da obra. Óscar e Marina encontram um enigma na sua frente e deixam-se tomar pela curiosidade, sem se dar conta das proporções que ela vai tomando. Záfon gradualmente transformou a história que parecia ser uma aventura de adolescentes numa combinação perfeita entre drama, romance, ficção científica e fantasia.

“Afinal de contas, que tipo de ciência é essa, capaz de colocar um homem na lua, mas incapaz de colocar um pedaço de pão na mesa de cada ser humano?”

Apesar de ser um livro com poucas páginas, não consegui ler em pouco tempo. Senti que era incapaz de ler um capítulo atrás do outro sem ter que parar para respirar, por isso sempre ficava com outro mais leve do meu lado para essas ocasiões. Constatei que preciso me acostumar com livros nesse estilo, pois foi uma experiência incrível. Lemos muitos livros ao longo dos meses, dos anos e da nossa vida, mas dificilmente nos deparamos com um que nos marca. Essa é nossa procura incansável.

“Marina me disse um dia que a gente só se lembra do que nunca aconteceu.”

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