Resenha: Delírio - Lauren Oliver




  • Título: Delírio
  • Autor(a): Lauren Oliver
  • Editora: Intrínseca
  • Ano: 2012
  • Páginas: 352
  • Cortesia da Editora Intrínseca
Muito tempo atrás, não se sabia que o amor é a pior de todas as doenças. Uma vez instalado na corrente sanguínea, não há como contê-lo. Agora a realidade é outra. A ciência já é capaz de erradicá-lo, e o governo obriga que todos os cidadãos sejam curados ao completar dezoito anos. Lena Haloway está entre os jovens que esperam ansiosamente esse dia. Viver sem a doença é viver sem dor: sem arrebatamento, sem euforia, com tranquilidade e segurança. Depois de curada, ela será encaminhada pelo governo para uma faculdade e um marido lhe será designado. Ela nunca mais precisará se preocupar com o passado que assombra sua família. Lena tem plena confiança de que as imposições das autoridades, como a intervenção cirúrgica, o toque de recolher e as patrulhas-surpresa pela cidade, existem para proteger as pessoas. Faltando apenas algumas semanas para o tratamento, porém, o impensado acontece: Lena se apaixona. Os sintomas são bastante conhecidos, não há como se enganar — mas, depois de experimentá-los, ela ainda escolheria a cura?

“Disseram que o amor era uma doença. Disseram que ele acabaria nos matando.” Pg. 222

Livros distópicos se tornaram uma febre. Um tema que dá abertura para diversas discussões, sobretudo de crítica à sociedade. É inquestionável a criatividade de Scott Westerfeld na série Feios, ou de Suzanne Collins na série Jogos Vozares. E mais incontestável ainda, é a criatividade de Lauren Oliver com Delírio, onde uma sociedade inteira considera o amor como uma doença. Mas não numa doença tratável, como a gripe ou até mesmo catapora, mas algo que denigre o ser humano e gera preconceito e marginalização.

“Viver livre ou morrer.” – Antigo ditado, origem desconhecida, listado na Compilação Abrangente de Palavras e Ideias Perigosas, www.capip.gov.org. – Pg. 238

O livro mostra como a cura afetou a vida em sociedade e sua saúde mental, mostrando, assim, a importância do amor. Sem ele, as pessoas se tornaram perturbadas, os índices de suicídio são altíssimos. Os governantes, entretanto, acusavam essas pessoas de terem contraído o amor delíria nervosa, escondendo dos cidadãos que, na verdade, elas sofriam da falta dela. Pessoas que preferiam morrer a viver sem amor. Dá pra imaginar não amar seus pais e seus irmãos? Eles tiraram isso, eles eliminaram qualquer relação afetiva, alegando que assim, também não existiria dor, tornando-os mais felizes.

“- Sabe que não é possível ser feliz a não ser que às vezes se sinta infeliz, certo?” – Hana. Pg. 24

Além da capacidade de amar, as pessoas também não conseguiam mais sonhar, tanto enquanto dormiam, como os desejos de um futuro melhor. A sociedade passou a viver como robôs. Nascer, passar pela intervenção, e morrer. Pronto. Não existe livre arbítrio. Não existe vontade própria. A cura elimina qualquer desejo sexual, a não ser com o intuito de reproduzir, eliminando, com isso, o homossexualismo. Lauren Oliver criou, o que os grandes governantes julgavam uma sociedade ideal, sem sair dos trilhos, sem se importar com os impactos que isso traz para as pessoas que vivem nela. Loucura.

“Melhores amigas há mais de dez anos e, no fim, tudo acaba na ponta de um bisturi, no movimento de um laser pelo cérebro e em uma faca cirúrgica brilhante. Toda essa história e sua importância se desligam, flutuando para longe como um balão furado. Em dois anos – em dois meses –, Hana e eu nos cumprimentaremos na rua com nada mais que um aceno de cabeça; pessoas diferentes, mundos diferentes, duas estrelas girando silenciosamente, separadas por milhares de quilômetros de espaço escuro.” – Pg. 154

Nossa heroína, Lena, não conheceu sei pai, que morreu de câncer antes que pudesse completar um ano. Sua mãe, quando ela tinha seis anos, se suicidou, após passar pela intervenção diversas vezes, e nenhuma delas funcionar. Desde então, Lena e sua irmã (que, no ponto em que o livro começa, já passou pela intervenção que acontece quando a pessoa chega aos 18 anos) vivem com seus tios. Quando ela era pequena, costumava pensar em sua mãe como uma pessoa extraordinária, carinhosa, que adorava cantar, dançar, e demonstrar todo o amor que sentiu pelas filhas. Mas quando conhecemos a protagonista, aos 17 anos, vimos que conviver com seus tios curados mudou seu modo de pensar. Lena, então, se lembra de sua mãe como alguém que sofreu por amor, e morreu por causa dele também. Alguém doente. Alguém com quem que ela espera que as pessoas não a relacionem. O livro é uma contagem regressiva até a intervenção da protagonista.

“Vá por mim: se ouvir o passado falando com você, se senti-lo puxando suas costas e deslizando os dedos por sua coluna, a melhor reação – a única reação – é correr.” – Pg. 143

Mas Lena se apaixona. Nossa protagonista é infectada pela delíria. E, finalmente ela entende porque sua mãe preferiu morrer a viver sem o amor. Nossa protagonista, finalmente, aprendeu a dar valor à sua única amiga, Hana, sua prima que nunca fala, Grace, e a pessoa que a infectou com o amor, Alex. Lauren Oliver misturou aventura e romance de uma maneira maravilhosa. Cada revelação era uma surpresa. Mesmo que você já desconfiasse de algumas coisas, a autora sempre dava um jeito de fazer com que fosse surpreendente de alguma maneira. Em algumas partes do livro, o leitor não quer nem largá-lo. Mostrou Lena conhecendo o amor, conhecendo a verdadeira felicidade, mas sem abrir mão de entregar a verdadeira face de um governo opressor: a violência.

“Sei que a vida não é vida se você apenas passar batido por ela. Sei que o propósito – o único proposito – é encontrar o que importa e se ater a isso, lutar por isso e se recusar a soltá-lo.” – Pg. 299

A medida que fui lendo Delírio, tive que parar várias vezes para anotar observações! Milhares coisas passam pela cabeça do leitor quando ele é inserido no mundo de Lauren Oliver. O livro pega histórias de amor, como Romeu e Julieta, para mostrar os perigos da delíria. Distorce ensinamentos bíblicos e os fatos neles contados para comprovar que o amor é, de fato, uma doença. A delíria é um castigo por Adão e Eva terem sucumbido à tentação, um castigo pelo pecado original. A Bíblia, por exemplo, se tornou o Livro das Lamentações.

“Amor, a mais mortal das coisas mortais: mata quando você tem e quando você não tem. Mas não é exatamente assim. O condenador e o condenado. O executor; a lâmina; a prorrogação do último minuto; o suspiro e o céu acima de você, e o obrigada, obrigada, obrigada, Deus. Amor: ele vai mata-lo e salvá-lo, ao mesmo tempo.” – Pg. 307

Leia também:
Antes Que Eu Vá – Lauren Oliver (Intrínseca)
Jogos Vorazes – Suzanne Collins (Rocco)
Em Chamas – Suzanne Collins (Rocco)
A Esperança – Suzanne Collins (Rocco)
Feios – Scott Westerfeld (Galera Record)

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