Resenha: A Visita Cruel do Tempo - Jennifer Egan




  • Título: A Visita Cruel do Tempo
  • Autor(a): Jennifer Egan
  • Editora: Intrínseca
  • Ano: 2012
  • Páginas: 336

Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.

A princípio, esse livro me chamou a atenção por todos os prêmios que tinha ganhado. Sua premissa, claro, me pareceu bem interessante, mas não tinha visto motivos só na sinopse para todo o circo que estavam montando, me pareceu um livro bem comum. Já no primeiro capítulo, eu vi que era bem diferente do que eu tinha previsto, a narrativa, a construção dos personagens, tudo fazia parte do conceito prematuro que eu tinha criado sem entender.

“É essa a realidade, não é?
Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente
quando arrancaram fora metade das suas entranhas.
O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?”

Poucas coisas em A Visita Cruel do Tempo são regulares. O livro não segue a linha do tempo que é esperada, alternando entre eventos passados e futuros, assim como entre os personagens principais, que é uma lista enorme. A autora, sobretudo, estava contando várias histórias em uma só, cada personagem estava interligado ao outro mesmo que por um elo fraco, vidas que foram se entrelaçando com o passar do tempo e mostrando as consequências do mesmo. As consequências de escolhas erradas, de escolhas que pareciam certas, mas terminaram decepcionando, ou o fato de simplesmente não ter escolhas.

Aparte de seus enredos extremamente diferentes, Jennifer Egan e Audrey Niffenegger, autora de A Mulher do Viajante no Tempo, têm um talento específico dentro da literatura, algo que eu acho excepcional, algo que difere os bons autores dos autores maravilhosos: tudo que é escrito no livro, cada mínimo detalhe e acontecimento aparentemente supérfluo, tem uma razão. Tudo se conecta. A autora não deixa brechas, nem buracos na história, algo que faz você pensar que a autora leu e releu seu livro mil vezes antes de publicá-lo, mas no final conclui que ela simplesmente tem esse dom.

A narrativa, entretanto, é um pouco cansativa. Cada capítulo é pelo ponto de vista de um personagem, como pequenos contos interligados. Por vezes a autora alterna entre 1ª e 3ª pessoa, o que deixou o texto dela ainda mais distinto. Mas o que me cansava era a quantidade de tempo em que a história se passava na “cabeça” do personagem da vez. Na maioria das vezes ficamos perdidos dentro dos pensamentos deles, e fora da ação das cenas, uma característica da autora que pouco me agradou. Não há reviravoltas, o livro mantém o ritmo do começo ao fim.

Mas não é sua narrativa que afasta o que realmente importa, o talento que a autora tem para criar personagens tão pertos da realidade que quase se pode tocar é revoltante. Pessoas feitas de seus erros, seus defeitos, da vontade de querer mudar, melhorar sua vida e encontrar o caminho certo. Tudo o que verdadeiramente procuramos na vida, é o que acontece com seus personagens. Tudo isso misturando a realidade dos anos 70, a juventude envolvida com o rock, e o que se tornaram no presente. Jennifer Egan fez questão de destacar o tempo em que a história estava se passando através de pequenos detalhes dentro de diálogos, como o “nada” onde se encontrava as torres gêmeas antes do ataque de 11 de setembro, ou as bandas, hoje famosas, que eles estavam escutando.

A Visita Cruel do Tempo é um livro grandioso, os prêmios que recebeu, foram entregues por mãos sábias definitivamente. Conclui que esse livro não é aquele que lemos pelo simples fato de ter algo para ler, e sim porque precisamos da algo para apreciar. Uma obra de arte.

Destaco ainda o trabalho gráfico do livro, tanto a capa, tão significativa quanto a parte de dentro dele. O capítulo feito com Slides ficou muito bom!

Geral: (4/5)
Narrativa: (4/5)
História: (4/5)
Facilidade de Leitura: (4/5)
Design: (5/5)
Revisão: (5/5)

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