Resenha: Confissões de um Turista Profissional - Kiko Nogueira




  • Título: Confissões de um Turista Profissional
  • Autora: Kiko Nogueira
  • Editora: Novo Conceito
  • Ano: 2011
  • Páginas: 94

Apesar de Kiko e Jota Pinto se parecerem um pouco fisicamente e andarem tão juntos que já são quase uma coisa só (os dois tem a mania insuportável de fazer uma vozinha macabra e fina que geme histericamente quando alguém conta algo tedioso), a maneira como conheci o primeiro é completamente diferente da maneira como conheci o segundo. O Kiko, eu conheci num bar da Vila Madalena, há uns 7 anos. Ele é primo de um amigo do amigo de um ex-namorado meu, que na época não era nada meu e nem estava na mesa porque eu ainda namorava o primo dele, que não era amigo de ninguém. Acho que é isso. Falei que eu escrevia e o Kiko se interessou em ler alguma coisa, daí mandei alguns textos e ele adorou. Começamos a trocar uns e-mails e nunca mais paramos. Hoje temos uma linda amizade. (intelectual, espiritual, fraternal) e um dá muita força pro outro: ele publica tudo o que eu escrevo e eu falo que ele aparenta ter 28 anos. Já com o Jota Pinto a coisa se “deu” completamente diferente. Nós nos conhecemos numa balada da Vila Madalena, há uns 7 anos. Ele é amigo de um primo do amigo de um ex-amigo meu, que na época era namorado, mas que nem estava na mesa porque eu o estava chifrando com o seu melhor amigo, que não era primo de ninguém. Acho que é isso. Falei que eu escrevia e o Jota Pinto se interessou em ler alguma coisa, daí mandei um material e ele achou tudo uma grande droga. Começamos a trocar uns e-mails nos xingando e nunca mais paramos. Hoje nutrimos um ódio especial um pelo outro (intelectual, espiritual, fraternal) e no que podemos atrapalhar a vida um do outro, atrapalhamos: ele não publica quase nada do que eu escrevo e eu simplesmente falo a verdade.

Umas das coisas que aprendemos desde criança é “Se não tiver algo gentil para falar, não fale.” Bom, sabemos que isso na realidade é impraticável, então eu resolvi reformular: “Se não tiver algo gentil para falar, não fale. Mas se for necessário falar a verdade, que seja sutil.” E foi lendo esse livro que essa minha ideologia ficou se repetindo a cada crônica de Kiko Nogueira que fui lendo. Já li livros de vários tipos, os que me fizeram chorar, rir, me apaixonar, ter medo... Mas essa foi a primeira vez que eu quis esganar o autor!

O livro é escrito por uma pessoa pretensiosa, e, posso até arriscar dizer, amarga. Ah, e não posso me esquecer de “egocêntrica” também! Qualquer pessoa que só tem coisas negativas para falar de qualquer parte do Brasil menos do seu estado, tem sérios problemas. E ainda solta a pérola nada sutil “Os paulistas estão para o Brasil assim como os americanos para o mundo.” Já visitei São Paulo muitas vezes, e acho ela uma cidade linda, sim. E sempre defendo quando alguém vem falar mal, assim como defendo qualquer outra cidade, pois sei que meu país é lindo. Amo, sobretudo meu estado, e defendo-o de todos os maus olhos e do preconceito. Kiko Nogueira é um paulista preconceituoso, e mente fechada demais para admitir que o Brasil é um país lindo, e grande. Mas vou fazer uma pausa aqui para dizer que conheço muitos paulistas, tenho parentes lá, e, entre todo mundo que conheço, Kiko Nogueira é a exceção da regra, mesmo que existe mais pessoas como ele.

“O paulista carrega em si a responsabilidade inata de pertencer ao Estado mais rico do país. O lugar onde ninguém tem tempo para outra coisa que não o trabalho. E onde tudo funciona (sei...). Descemos do avião no timing do transito no rush, ainda com a reunião na cabeça – e uma tremenda culpa na consciência, diga-se. A garçonete demorou a nos atender? Em São Paulo isso não aconteceria. O vendedor de coco não tem troco? Em São Paulo, isso não aconteceria. O tempo está fechado e o mar está sujo? Em São Paulo, isso não aconteceria.” – pág. 19

Acho que o autor acordou um dia pensando “Ah, por que não escrever um livro criticando a sujeira e violência em Ipanema, as prostitutas do Rio de Janeiro, a artificialidade de Brasília, o artesanato malfeito do Nordeste. Ah, mas por que não ir mais além? Vou fazer o leitor se sentir mal por cair nos clichês do turista, por querer visitar a Monalisa no Louvre, ou a Torre Eiffel.” Uma pessoa tão negativa não deveria ser beneficiada nem com uma passagem de avião, quanto mais um passaporte! Eu quero, sim, como ele, ter 253 destinos carimbados no meu passaporte, quero conhecer o mundo, pessoas novas, e escrever sobre elas. Mas eu quero escrever coisas boas, eu quero tirar o proveito do que é bom da vida, e não ficar observando os defeitos! Se nós formos ficar observando a sujeira e violência (que eu nem sei se é tão exagerado como ele falou, pois nunca visitei, infelizmente) de Ipanema, nunca vamos conhecer as belezas do Rio de Janeiro. Ah, quanto às prostitutas? É deve ser uma exclusividade de lá mesmo, um “luxo” dos cariocas, aposto que não tem nenhuma em São Paulo. E, bom, acho que vou evitar Brasília para sempre, pois foi uma cidade arquitetada e planejada... Eca. Ah, mas queridos leitores, vamos evitar também as praias do Nordeste, pois as águas ficam turvas quando chove! Ah, por favor!

A verdade é que eu não dou a mínima se os “mochileiros da Europa” consideram os turistas, que fazer tour naqueles ônibus de dois andares em Londres, os maiores idiotas. Não vejo problema nenhum em querer visitar algo simplesmente por ele ser famoso. Ou deixar de ir aos parques de Orlando porque eles “supostamente” foram construídos com propósitos capitalistas. Que seja! Eu tomo Coca-Cola, como na McDonald’s, sou fã de filmes hollywoodianos e literatura americana! Os parques de Orlando são maravilhosos, até para alguém com mais de 50 anos de idade, é mágico, é lindo, e vale cada dólar pago no ingresso. E podemos tirar foto de tudo! E mostrar para os amigos, sem se incomodar se Kiko Nogueira acha isso irritante. Porque, para mim, viver é isso, é conhecer coisas novas, e compartilhar experiências com quem a gente ama.

Eu não ligo se o americano só enxerga o próprio umbigo, eu estou lá para me divertir, usufruir do que eles oferecem aos seus turistas. Já fui aos Estados Unidos duas vezes, fui a Orlando, visitei os parques da Disney, fui em Miami, comprei perfumes, fui em Nova Iorque, comprei uma camisa “I ♥ New York”, comi na McDonald’s logo na primeira noite, visitei a loja da Apple e hoje tenho dois aparelhos da empresa! Eu quero que Kiko Nogueira venha aqui, na minha porta, me falar que eu estou cometendo um crime, ou traindo meu próprio país! Porque eu sei, do fundo do meu coração, que eu amo o Brasil, e não quero morar em outro lugar que não seja Recife, mesmo com todos os defeitos!

Confissões de um Turista Profissional não é um guia de viagem, não tem “dicas”, são apenas as frustrações de um cara que já viajou demais e já viu demais, e se acha tão dificilmente impressionável. O mais irônico de tudo, é que realmente existe um capítulo no livro que fala sobre as pessoas que reclamam de tudo na viagem. Será que alguém pode pedir pra Kiko Nogueira abaixar o nariz e ver o mundo como ele realmente é? Ver que não só a cidade dele é bonita, mas como o resto do Brasil... E o resto do mundo? O engraçado é que ele fala de ufanismo, de como os cidadãos dos Estados Unidos tomaram a América para si por se autodenominarem americanos, mas não enxerga que, com seus, comentários faz o mesmo. E olhe que eu sou só uma estudante de jornalismo chegando aos 20 anos de idade.

Não estou diminuindo a importância de São Paulo, para o nosso país, nem desminto quando ele fala que é o estado mais rico do país. Só estou aumentando a importância dos outros, pois um país grande como o Brasil, não pode ser levado nas costas de um só estado. É só assistir aos telejornais.

A única coisa boa no livro é a diagramação e a ótima revisão da Editora Novo Conceito. E é por ela, que o livro leva uma estrela.

Geral: (1/5)
Narrativa: (3/5)
Facilidade de Leitura: (5/5)
Design: (5/5)
Revisão: (5/5)

Comentários via Facebook

 
Vector Credits